
Se meu pai estivesse aqui, entre nós, teria completado 80 anos no último dia 16. Então, resolvi utilizar este espaço para homenageá-lo, contando um pouco da sua história. Mas não pensem que esta postagem, na véspera do Ano-Novo, será triste ou melancólica... De jeito nenhum! Não combinaria com a lembrança que tenho dele.
Antônio Simeão, como era conhecido, sempre foi sinônimo de alegria. De riso fácil, adorava pescar e contar histórias de pescarias, quase sempre aumentando o tamanho do peixe...
Impossível esquecer as muitas vezes em que a gente se sentava ao redor da mesa da cozinha lá de casa, no interior de Minas, ouvindo meu pai contar seus “causos” que arrancavam risos de toda a família. Programa melhor não tinha. Os temas variavam: iam desde lembranças da sua infância – travessuras, na maioria – até histórias de cobras enormes que apareciam lá na roça, ou de assombrações que ele garantia que fulano viu... Enquanto isso, minha mãe ajeitava a lenha no fogão para atiçar o fogo e manter a água quente na serpentina (para quem não conhece, serpentina é um sistema de tubos, instalado no fogão a lenha, para aquecer a água da torneira e do chuveiro). De vez em quando, meu pai exagerava nas histórias, inventava detalhes meio absurdos só para ilustrar e fazer graça. Nessas horas, minha mãe o repreendia com um “Antônio!!!” e todos, inclusive ele, caiam na gargalhada...
Era bonito ver a amizade dele com os irmãos. Quando nós, filhas, éramos ainda crianças e acontecia de alguma se "estranhar" com outra, ele fazia as briguentas se abraçarem (mesmo contra a nossa vontade) e dizia que a gente devia ter como exemplo a forma como ele e os seus irmãos conviviam.
Todos os dias, infalivelmente, ele visitava as “meninas” – era assim que se referia, carinhosamente, às suas irmãs Maria e Ana, que já passaram dos oitenta anos. Dizia para nós: “tenho que ir todo dia, não sei quanto tempo de vida elas ainda têm...” Não sabia ele que deixaria este mundo bem antes delas...
Lembro-me de que meu pai gostava de jogar Truco e ficou até bravo quando quiseram ensinar o jogo de Buraco pra ele. Disse que não queria aprender, não tinha paciência e que o jogo dava sono. Mas acabou sendo convencido (ou vencido) pelos amigos e tomou gosto pelo “carteado”, fazendo da reunião na casa dos parentes uma distração diária...
Orador nato, embora pouco soubesse além de fazer contas e assinar o próprio nome, meu pai nunca se amedrontou diante de uma plateia ou de um microfone. Pelo contrário, parecia gostar do desafio... Quando era necessário falar, lá estava ele, dando o recado como tinha de ser. Se lhe faltavam conhecimentos gramaticais – por não ter frequentado a escola – sabia compensar com clareza e expressividade.
Aprendi com meu pai a falar a verdade, ser íntegra, não fazer dívidas, não prometer o que não posso cumprir e, acima de tudo, a ver o lado bom da vida... Saudades? Tenho muitas! Alguns anos já se passaram desde que ele se foi, mas procuro me lembrar dos momentos bons que vivemos e de todas as risadas que demos juntos. Certamente meu pai foi um homem feliz!
Quando um ano termina, é comum a gente refletir sobre o que passou, lembrar de tudo que realizamos e do que ficou para depois, na eterna busca da felicidade... Mas isso pode não ser assim tão complicado. É como diz Mário Quintana "faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça de que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade."
E felicidade é o que eu desejo para vocês, caros leitores!
Que venha 2010!